Corsarius Grati estrada do iluminismo, corsarius grati, corsarius grati, corsarius, grati, blog, rio de janeiro, brasil, brazil, história, idiomas, música alternativa, cultura celta, pensamentos, civilizações, história antiga, história medieval A Estrada do Iluminismo, por Corsarius Grati

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O rock'n'roll do Placebo

Grupo com base em Londres, Placebo é uma das bandas mais cultuadas por quem acompanha o rock’n’roll atual. Eles resolveram fazer um show por esses pagos. Então decidi prestar-lhes um tributo, na forma de pequena análise poética da sua trajetória até hoje, acompanhada de dados interessantes a quem quer saber mais sobre o assunto.

O Placebo surgiu do encontro de dois jovens desempregados. Era o ano de 94. Brian Molko, filho de um banqueiro falido, começava uma formação em artes cênicas depois de emigrar de Luxemburgo, um mini-principado que não oferece muitas expectativas. Brian conheceu Stefan Olsdal, baixista de origem sueca, com quem passaria noites ouvindo The Cure, The Smiths, David Bowie, Depeche Mode, Smashing Pumpkins. As maiores influências da banda já se anunciam aí: o rock que a Inglaterra produziu a partir da onda punk, gerando a chamada geração pós-punk, que mixou inconformismo com glitter e sintetizadores.

No ano seguinte, Brian e Stefan se juntaram ao baterista Robert Schulzberg para gravar o primeiro álbum: “Placebo”. Barulhento, sustentado por batidas violentas e arranjos simples, o disco homônimo beira a tosqueira. O valor dele está na fundação de imagens poéticas fortes, lançando temas que serão explorados nos trabalhos seguintes. É o caso da figura do Nancy boy, alegoria da androginia dos tempos contemporâneos, em que os papéis sexuais não se definem como antigamente, possibilitando a criação de terceiros e quartos sexos. O Nancy boy não tem qualquer compromisso com o passado, o que, porém, não lhe garante muita felicidade: a liberdade, que parece ter sido afinal conquistada, recaptura-o. The face that fills the hole / stole my broken soul.

A obra do Placebo procura, então, desenhar no espaço oco erguido pelas grandes cidades. Letra e música procuram delinear esse espaço ambíguo, ocupado por vazios cada vez mais opressores. O personagem dessa cena veste-se do conflito, passando a habitar o inabitável, ao desposar a crise: she stole the keys to my house / and then she locked herself out.

O barulho inicial da banda tem, por isso, um tom pessimista, quase gótico, que lembra uma geração mal-do-século oitocentista atualizada à sociedade da velocidade. Se o primeiro álbum traz o clima veloz de uma noite tumultuada, com cenas de sexo explícito e hedonismo junkie, o segundo é definido pela própria banda como o amanhecer dessa mesma noite. O sol começa a aparecer, mas está coberto o bastante por prédios e fumaça para dar a esse novo dia uma claridade cinza. Day’s dawning, skins crawling.

Aqui as canções, em sua maioria baladas modernas, têm o tom vertiginoso de quem constata que nada restou dos prazeres inomináveis de ontem à noite. “Without you I’m nothing”, o segundo álbum, marca uma mudança do som da banda, no sentido de uma produção mais elaborada. Também a entrada do baterista Steve Hewitt favorece a criação dessa outra atmosfera. O tom não é mais o do escândalo ruidoso, mas o de uma languidez semicadavérica que pede auxílio desesperadamente. O resultado é um álbum introspectivo de um romantismo cortante, doloroso e belo. É a poética do rastejante, que confirma a vocação da banda em estetizar a tragédia cotidiana.

O reconhecimento conseguido com esse segundo trabalho traz problemas. A agenda lotada parece esgotá-los; Molko quase morre de uma infecção das amídalas. Mesmo assim, eles decidem produzir o próximo álbum, “Black Market Music”, sem tirar férias. Novos temas aparecem, destacando-se um engajamento em questões políticas. E, novamente, os paradoxos de uma liberdade levada ao extremo. Amar e pintar a pessoa amada de idealização, digam ao angustiado Molko se é possível escapar a esse trágico destino. Pois em Placebo o abuso de drogas vira metáfora de uma maneira de amar. A vida se torna uma gangorra radical movida pelas forças das presenças e das ausências. Molko é o poeta jovem da grande cidade, pintando a morte com lápis preto, borrando os olhos para além da vista.

A frustração com um mercado viciado leva o grupo a uma pausa de sete meses. O álbum “Sleeping with ghosts” será gravado à distância, um instrumento de cada vez. Depois de viver a noite, sobreviver ao amanhecer cinzento e morrer uma nova queda, agora é hora de contar a história de novo. Há faixas inovadoras como “Protect me”, que ganhou uma versão francesa: “É uma valsa”, diz ironicamente Brian Molko. O single “Bitter end” traz uma levada punk e uma tragicidade intensa e até alegre, apesar de a temática ainda ser a do rompimento, da descontinuidade, da conciliação impossível. A desoladora e inquietante “Something rotten” mostra influências dos últimos experimentalismos de bandas como Radiohead. O conflito ganha novas melodias.

Molko e o Placebo se firmam como os cantadores da tragédia contemporânea, influenciando novas bandas, como Interpol, The Libertines e Franz Ferdinand.

Para você que gosta de rock e baladas, e quer conhecer o Placebo, recomendo as seguintes músicas para começar:

  • Every You, Every Me
  • Special Needs
  • Slave to the Wage
  • Teenage Angst
  • Pure Morning
  • Passive Agressive
  • Taste in Men
  • Days Before You Came
  • Commercial For Levi
  • Blind
  • Special K
  • Drag
  • Black-Eyed
  • English Summer Rain
  • 36 Degrees
  • This Picture
  • Nancy Boy
  • You Don't Care About Us
  • Song to Say Goodbye
  • One of a Kind
  • Blue American
  • Narcoleptic
  • The Bitter End

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